Posenato

FUGINDO DA MONOTONIA DOS CONJUNTOS HABITACIONAIS

Estamos habituados às imagens de imensos conjuntos habitacionais formados por casas todas iguais, dispostas de formas rigidamente simétricas. Esse padrão está tão impregnado, que quase sempre é reproduzido, como se não houvesse alternativa viável.

http://www.capitalteresina.com.br/noticias/teresina/processo-judicial-quer-retomar-casas-abandonadas-do-jacinta-andrade-4217.html
https://linhaslivres.wordpress.com/2014/08/17/desigualdade-pessoas-sem-casa-casas-sem-pessoas-leitura-da-manha/

O arquiteto egípcio Hassan Fathy[1], profundo conhecedor do sentido simbólico do espaço, refere-se a essas “monótonas fileiras de habitações idênticas, que na maioria das vezes são consideradas como sendo tudo o que os pobres merecem”.  E alerta sobre os efeitos[2]: “Se se enfiar as famílias dentro de fileiras e mais fileiras de casas idênticas, então algo nessas famílias morrerá, principalmente se elas forem pobres. As pessoas se tornarão desinteressantes e desanimadas como as suas casas, e a imaginação delas murchará”.

http://www.ima.al.gov.br/autorizacao-e-licenca-ambiental-sao-entregues-para-conjuntos-habitacionais/

Embora as montadoras ofereçam um número limitado de modelos de veículos, o usuário pode personalizar o “seu” automóvel, optando dentre uma gama de cores e escolhendo múltiplos acessórios. Assim, mesmo que sejam poucas opções de modelos, na prática há uma inumerável riqueza de variações.

         A industrialização da construção conduz a uma limitação de modelos. Contudo, tal como ocorre com os automóveis, o Sistema Posenato oferece aos usuários alternativas para que possam estampar, nas suas casas, a afirmação de sua personalidade, e não somente ter a sensação deprimente de fazer parte de um rebanho indiferenciado e sem expectativas.

         Nos anos 1970, quando eu iniciava a conceber o sistema construtivo com a Patente Verde que agora apresento, fui analisar um conjunto residencial popular em Canoas, RS, inaugurado um ano antes. Eram centenas de casas absolutamente brancas e iguais. Surpreendi-me com a variedade de formas com que me deparei: decorrido em torno de um ano da inauguração, em boa parte das unidades as pessoas haviam feito alguma intervenção, muitas vezes de pouca monta, para personalizar suas casas: trechos revestidos de cerâmica, aplicações de plaquetas imitando tijolos à vista, construção de alpendres, colocação dos mais diversos tipos de grades, pinturas nas cores as mais diversas, construções de anexos, substituição de esquadrias, organização de floreiras, etc. Imediatamente percebi que, assim agindo, as pessoas buscavam marcar em suas casas um pouco de si mesmas.

         Para mim foi uma lição, e agora ofereço, no Sistema Posenato, inúmeras possibilidades de personalização das casas, a custo irrelevante, assim como planejo, para cada terreno, um modelo de casa adequado a aproveitar as peculiaridades do local, especialmente sua orientação solar.

         Ao invés de insistir nas quase invariáveis “filas de casas idênticas”, os empreendimentos devem ser planejados levando em conta a topografia, a paisagem, a insolação, as brisas dominantes, o sentido simbólico do espaço.

         No Sistema Posenato, sem acréscimo de custos, planejam-se conjuntos urbanos com qualidade e beleza arquitetônicas, onde as pessoas tenham conforto para habitar, alegria de viver e se sintam realizadas como pessoas.

         Um único modelo industrializado, produzido pelo SISTEMA POSENATO, pode apresentar inumeráveis visuais peculiares, personalizando a unidade.

Exemplo de casas produzidas pelo Sistema Posenato, a partir do mesmo jogo de formas.

[1] FATHY, 1980, p. 96. (FATHY, Hassan. Construindo com o povo: arquitetura para os pobres. Rio de Janeiro: Salamandra, 1980, 261 p., il).

[2] IDEM, p. 47.

                                                                           Arq. Júlio Posenato –   fevereiro de 2018